Edição do dia 22/11/2017

22/11/2017 13h54 - Atualizado em 22/11/2017 14h08

Falhas em hospitais matam mais que o câncer, a violência e o trânsito

Só no ano passado, mais de 300 mil pacientes morreram por causa de erro médico, negligência ou algum incidente em hospital.

Paula AraújoSão Paulo

 Um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais mostrou números assustadores e preocupantes: a cada cinco minutos, três pacientes morrem por alguma falha nos hospitais do Brasil. É a segunda causa de morte, só perde para doenças do coração.

A corretora de seguros Sônia Menezes pensa todos os dias em como a vida seria diferente se a filha dela não tivesse entrado em uma sala de cirurgia.

Na época, Camila tinha 19 anos. Ela se internou por causa de uma dor de ouvido e morreu logo após o procedimento. “Eles perfuraram uma artéria muito importante, deu hemorragia interna e eles não viram. Ela estava deitada, engoliu tudo e foi para o estômago. O sangue parou e ela morreu”, conta.

Foram 15 anos de briga na Justiça até que a negligência médica fosse confirmada. Camila entrou numa lista enorme de pessoas que morreram por falhas nos hospitais públicos ou privados do país. Os dados são assustadores e estão no Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar, divulgado nesta quarta (22).

No ano passado, mais de 300 mil pacientes morreram por causa de erro médico, negligência ou algum incidente em hospital. De acordo com o estudo, as falhas em hospitais mataram por dia mais do que câncer, violência e acidentes de trânsito.

“O tempo todo alguém tá no hospital e cai da cama, alguém tá no hospital e pega uma infecção hospitalar, alguém tá no hospital e não tomou as medicações preventivas adequadas e forma um trombo na perna”, diz Renato Couto, professor da UFMG e um dos responsáveis pelo anuário. 

As principais vítimas dessas falhas são crianças com até 28 dias de vida e adultos com mais de 60 anos. Esses incidentes são mais comuns em hospitais de pequeno porte e que ficam em cidades menores. Ainda de acordo com os pesquisadores, 90% dessas mortes poderiam ser evitadas.

“Isso não só é um grande alerta, como o que se espera é que a sociedade estando alerta, ela tome providências”, completa Renato.

O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo culpa a falta de investimento. “Nós precisamos entender que sem dinheiro não existe saúde de qualidade. Por quê? Porque isso implica em tecnologia especialmente em formação, especialmente em treinamento, pessoas qualificadas prestando o melhor daquilo que são os recursos disponíveis”, explica Renato Françoso Filho, presidente do Conselho Regional de Medicina.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que faz projetos de melhoria em mais de 60 hospitais públicos, que 5 mil profissionais de saúde já foram capacitados com especializações e cursos e que as ações de segurança do paciente foram incorporadas em vários programas do governo. A Associação Nacional de Hospitais Privados não respondeu ao Jornal Hoje.